segunda-feira, 30 de novembro de 2009

FUNDAMENTOS ÉTNICOS BRASILEIROS (II) - RAIZES JUDAICAS DO BRASIL,PORTUGAL E ESPANHA

FRAGMENTOS GENEALÓGICOS DO BRASIL(III)

Como esperar que fossem raros na Colônia, carente de mulher branca, os casamentos mistos tão frequentes no Reino? Em Portugal como na Espanha, houve penetração de sangue judaico na alta nobreza e inclusive na própria Casa Real: o infante D. Luis teve d. Antonio , prior do Crato e pretendente ao trono, com uma linda judia de Évora. Se a mãe de Fernando de Aragão foi realmente de raça de conversos, os últimos reis da dinastia de Aviz teriam também ascendêndia sefardita, para não falar dos Hasburgos madrilenos, que reinaram em Portugal, todos descendentes do rei católico. Há muito, Mendes dos Remédios chamou a atenção para o assunto, lembrando o escrito em que no século XVIII Alexandre de Gusmão procurou tirar as ilusões dos chamados "puritanos", um punhado grande de familias portuguesas que, julgando-se isentas de defeitos de sangue, praticavam um endogamia rigorosa.Após recorrer ao cálculo aritmético segundo o qual cada individuo contaria, até o vigésimo grau de parentesco, com 32 milhões de ascendentes,o paulista indagava irônico : "Quisera me dissessem os senhores puritanos se tem noticia que todos fossem familiares do Santo Ofício. E porque os não havia nesse tempo, se tem têm ao menos de que eles fossem puros". Os apertos patrimoniais da aristrocracia estimularam especialmente as alianças entre linhagens fidalgas e cristãs-novas, como ocorreu após a derrota de Alcácer-Quibir(1578), quando "muitas familias nobres para refazerem as suas casas abaladas pela derrocada financeira consentiram nos casamentos mistos".

Por que então as familias principais do Brasil preservariam melhor a condição de cristãs-velhas, de que nem todas podiam se gabar no tocante ao tronco reinol que as fundara ? E , caso o tivessem querido, o que não aconteceu, por que teriam mais êxito que a nobreza do Reino ?

FONTE : O nome e o sangue : uma parabóla genealógica no Pernambuco colonial / Evaldo Cabral de Mello - São Paulo: Companhia das Letras,2009