sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

DIÁSPORA HAITIANA

A torrente de promessas para “reconstruir” o Haiti tem estimulado o debate sobre o quanto a Ajuda será necessária, por quanto tempo e quem poderá superintender um vasto programa, de forma eficiente. Em 2008, último ano para o qual existem dados estatísticos, o Haiti recebeu mais de 900 milhões de dólares em todas formas de Ajuda, e muitos analistas sugerem que esse total deve ser duplicado se a “recuperação” deverá acontecer. Mas é duvidoso que tais compromissos adicionais sejam feitos – e mantidos – à medida que o Haiti vá virando as suas páginas.A “reconstrução” e ”recuperação” colocariam simplesmente o Haiti, o país mais pobre do continente americano, de volta para onde se encontrava ante terramoto de 12 de Janeiro. Certamente que o nosso objectivo é fazer melhor: Devemos aumentar a Ajuda, mas também permitir que os haitianos se ajudem entre si, mas não há como o poderão fazer se simplesmente se encontram num país devastado. A um número substancial de haitianos deverá ser autorizada a deslocação para países mais ricos, incluindo os EUA.

O Haiti possui cerca de 9 milhões de habitantes, de onde 1 a 2 milhões vivem fora do país. De acordo com o Gabinete de Censos dos EUA, meio milhão de naturais do Haiti vivem nos EUA, e estima que várias centenas de milhar vivem no Canadá, bem como cerca de 100 mil em França. Esta diáspora envia para casa 1,9 milhões de remessas – o dobro dos fluxos oficiais da Ajuda e o equivalente a 30% do PIB haitiano. Estas somas são grandemente ultrapassadas por alguns dos vizinhos do Haiti. 1,3 milhões de dominicanos residentes nos EUA enviam para casa 3 biliões $ de remessas, uma quantia 20 vezes maior que o fluxo oficial da Ajuda. Um milhão de hondurenhos que vivem no estrangeiro envia para casa 2,7 milhões $, oferecendo oito vezes a ajuda externa global que as Honduras recebe. Os 1,5 milhões salvadorenhos que vivem nos EUA enviam para casa 3,8 bilhões $, 15 vezes os fluxos de ajuda oficial.

Uma maior diáspora haitiana teria uma base muito melhor para o futuro económico do país do que as promessas de ajuda que podem ou não ser cumpridas. Se centenas de milhar de haitianos poderão emigrar, os números das remessas dominicanas, hondurenhas ou salvadorenhas sugerem que as enviadas para o Haiti possibilitariam um enorme salto na sua economia. Para tal, é necessário que o Canadá, a França e os EUA – os países desenvolvidos que albergam as maiores diásporas haitianas – adoptem políticas de migração diferentes e mais liberais em relação ao Haiti. O Canadá tem já intensificado e agilizando os pedidos de imigração de haitianos cujos membros da família aí vivem. O ministro dos assuntos de imigração do Canadá observou que prevêem que haverá um número de novas aplicações, a quem irão dar prioridade.

Mas a França e os EUA concordaram somente em não repatriar os haitianos para o Haiti. Washington concedeu um “estatuto de protecção temporária”, (EPT) que significa as deportações dos haitianos será mantida por 18 meses. Na verdade, a secretária norte-americana para a segurança interna, Janet Napolitano sugeriu que os haitianos devem permanecer no Haiti, apesar das condições, dizendo, numa declaração, a 15 de Janeiro que “neste momento de tragédia no Haiti é tentador para pessoas que sofrem, como consequência do terramoto, a buscar refúgio noutros lugares. Mas a tentativa de deixar o Haiti agora só vai trazer mais sofrimento para o povo haitiano e nação".

A secretária prosseguiu dizendo que “os haitianos são resistentes e determinados, e seu papel na resolução desta crise na sua terra natal será essencial para o futuro do Haiti. É importante notar que o EPT será aplicado aos indivíduos que se encontravam nos EUA a 12 de Janeiro de 2010. Os que tentarem viajar para os EUA após essa data não serão ilegíveis para o EPT e serão repatriados. O Departamento de Segurança interna continua a estender a sua simpatia para com os vizinhos haitianos e apoiar os esforços de alívio mundiais de ajuda ao Haiti.”

Bem, não podemos fazer tudo – mas uma das melhores maneiras de ajudar o Haiti é permitir que alguns haitianos se desloquem para o estrangeiro. É ridículo afirmar que deixando o Haiti no próximo ano ou dois "só vai trazer mais sofrimento para o povo haitiano e nação." Migrações significaria que o Haiti precisa fornecer menos camas hospitalares, escolas, alimentação e emprego – e as remessas dos migrantes serão fundamentais para a recuperação económica do Haiti nas próximas décadas.

O presidente norte-americano, Barack Obama disse que a catástrofe no Haiti "é um daqueles momentos que apela à liderança americana". Deveria então questionar o Congresso para não só proporcionar fundos de Ajuda, mas também permitir que um número significativo de haitianos seja legalmente admitido a entrar por várias vezes nos EUA, até cerca de 25 mil/ano, como na última década. O Canadá e a França deveriam seguir a mesma prática. Não existem elixires para a recuperação no Haiti, mas qualquer abordagem sensata deve incluir a sua migração. Se os Estados Unidos está comprometidos a dar ao Haiti esperança para o futuro, aumenta a diáspora haitiana é uma forma infalível de sucesso.

Para ver o artigo original, clique aqui (Origem http://www.duplaoportunidade.org/spip.php?article445)